06 set Nutrição do cavalo de esporte
Durante o processo de domesticação, o homem mudou em muito os hábitos naturais do cavalo.
No passado, os cavalos raramente recebiam alimentação concentrada, sendo a pastagem natural seu principal alimento e desta forma seu aparelho digestivo está com sua anatomia e sua fisiologia preparada para digestão.
Normalmente uma boa pastagem é suficiente para manter suas condições em bom estado, porem, quando há necessidade de maior energia, somente o pasto não é capaz de satisfazer as suas exigências.
Em se tratando de cavalos de esporte e trabalho, associando-se a isso muitas das vezes os espaços reduzidos (animais em cocheiras), se faz necessária a utilização de alimentos concentrados ricos em nutrientes como; proteínas, energia, mineral e vitaminas.
Podem ser encontrados diferentes tipos de alimentos e diversas formas de se alimentar os cavalos, sempre lembrando os hábitos alimentares destes animais e tendo extremo cuidado para não serem cometidos erros absurdos levando a graves consequências.
Esses alimentos são originados de diversas fontes e devem ser combinados entre si, através de um balanceamento de forma a satisfazer as necessidades nutricionais do cavalo. No balanceamento, procura-se utilizar alimentos de fácil aquisição e de baixo custo.
A nutrição juntamente com o manejo e treinamento adequado, possibilita exteriorizar a capacidade genética do animal em seu crescimento, reprodução, trabalho, etc.
A nutrição adequada deve levar em consideração a idade, o objetivo, à função do animal bem como o manejo sanitário e reprodutivo assegurando melhores resultados em matéria de saúde e seu BEM ESTAR.
FISIOLOGIA DO CAVALO ATLETA
A fisiologia do cavalo é composta de diversos sistemas integrados, constituídos de órgãos, de tecidos especializados em tarefas especificas.
- Sistema Respiratório
- Sistema Circulatório (Sanguíneo e Linfático)
- Sistema Locomotor (Esqueleto, Músculos e Tendões)
- Sistema de Informação e Controle (Nervoso, Sensorial e Endócrino)
- Sistema Dentário
- Pele
- Sistema Reprodutor e Mamário
- Sistema Urinário
- Sistema Digestivo
Os quatro primeiros sistemas são diretamente envolvidos a cada vez que se solicita trabalho do animal.
O Sistema Dentário e Digestivo está diretamente ligado as condições físicas do animal (pontas de dentes afiadas impede a alimentação correta).
A Pele faz parte do sistema de termoregulação (EX: Na sudorese, vital no controle térmico durante o trabalho)
EFEITO DO EXERCÍCIO SOBRE O CORPO
Iniciando o trabalho, há um aumento da atividade muscular. A musculatura necessita de energia para se contrair. Inicialmente essa energia é fornecida pela metabolização de nutrientes estocados no interior das células musculares.
Quando os estoques de energia estiverem baixos, os nutrientes passaram a ser fornecidos por outras áreas do corpo (Ex: Fígado) e serão trazidas as miofibrilas na corrente sanguínea sob a forma de glicose e de ácidos graxos livres para que a energia necessária para a contração muscular seja liberada desses nutrientes com total eficiência, sendo preciso para tanto haver oxigênio fornecidos pelos pulmões através das hemácias e transportados por elas numa forma associada à hemoglobina.
Resultante deste processo, ocorre um resíduo metabólico toxico (Dioxido de Carbono) que precisa ser removido para a musculatura continuar trabalhando.
Isso significa que o sangue além de fornecer oxigênio e outros nutrientes, também removem as substancias residuais.
Quanto maior o trabalho, mais necessidade de oxigênio para maior contração muscular.
Ocorre aumento dos batimentos cardíacos para melhor distribuição de sangue por todo o organismo. Da mesma forma, o aumento da profundidade dos movimentos respiratórios para melhor disponibilidade de oxigênio.
Aumentando o exercício, as glândulas adrenais liberam o hormônio adrenalina que vai provocar a frequência respiratória e cardíaca e mobilizando as reservas energéticas depositadas em reservatórios orgânicos.
Ocorre a contração do baço levando um grande volume de sangue para a circulação aumentando a capacidade de transporte de oxigênio que age na contração muscular como já foi dito anteriormente.
PARTICULARIDADES DO HOMEM E DO CAVALO ATLETA
Caracteristicas | Homem | Cavalo |
Velocidade Máxima | 36 Km/h | 70 Km/h |
Proporção de Músculos (%PV) | 40 | 40 |
Peso do Coração (%PV) | 0,40 | 0,86 |
Capacidade Aeróbia | + | ++ |
Capacidade Anaeróbia | + | ++ |
Glicogênio Muscular | ++ | +++ |
Produção de Lactato | + | ++ |
Poder Tampão | + | ++ |
Sudorese | ++ | ++ |
Concentração de Eletrólitos no Suor | + | ++ |
Fibras Musculares IIB | + | +++ |
Fibras Musculares IIA | ++ | ++ |
Fibras Musculares I | +++ | + |
Reservas Energéticas (Kcal) ATP | 1,2 | 9,1 |
Reserva Energeticas (Kcal) Fosfocreatina | 3,6 | 45,0 |
Reservas Energéticas (Kcal) Glicogênio | 1200 a 2000 | 18000 |
Reservas Energéticas (Kcal) Lipídios | 50.000 a 150.000 | 1.000.000 |
EQUINOS DA RAÇA QUARTO DE MILHA
Fonte WOLTER (1992)
FIBRAS MUSCULARES
A seleção genética dos cavalos deve ter como condução a aptidão de determinadas raças para as provas de velocidade, privilegiando no metabolismo muscular a glicogenólise anaeróbia ou a glicogenólise aeróbia e o metabolismo lipídico que são características para as provas de resistência.
As fibras dos músculos esqueléticos , tipo I, IIA e IIB se diferenciam na composição enzimática condicionando o metabolismo energético e consequentemente a contração muscular.
- Tipo I – Alto metabolismo aeróbio, utilização de lipídios, contração muscular mais lenta favorecendo a resistência.
- Tipo IIA – São metabolicamente intermediarias, glicose moderada, capacidade oxidativa media em relação ao glicogênio, contratibilidade forte e podem evoluir para i tipo IIB dependendo da função e idade do animal.
- Tipo IIB – Menor capacidade oxidativa, maior dependência de glicose, tendência ao acumulo de acido lático, rendimento energético menor.
METABOLISMO ENERGÉTICO MUSCULAR
- GLICOGÊNIO – Para inicio de exercício e do esforço físico de alta intensidade a reserva de glicogênio muscular é a fonte de energia mais importante. O equino tem boa capacidade de armazenar glicogênio no tecido muscular que pode ser influenciada pela dieta.
- LIPÍDIOS – As reservas no tecido muscular são maiores do que o glicogênio. O equino deposita lipídios com facilidade, podendo aumentar essa reserva em função da dieta.
- COMPOSTOS FOSFATADOS DE ALTA ENERGIA – (FOSFOCREATINA ATP) – São compostos com energia rapidamente disponível por não dependerem do Ciclo de Krebs (Produção de ATP) ou β-oxidação. A energia é quantitativamente limitada, suportando poucos segundos de esforço muscular intenso.
- PROTEÍNAS – Os aminoácidos podem ser metabolizados para a obtenção de energia, porem são vias energéticas preferenciais e representam uma sobrecarga metabólica.
MANEJO DE ALIMENTAÇÃO
- Fornecer uma dieta total diária, em matéria seca, correspondente a 2,5% do peso vivo podendo chegar ao máximo de 3% PV, sendo que 1/3 da dieta deve ser de volumoso de boa qualidade (0,75 a 1,0% PV).
- Avaliar com frequência o peso e condição corporal dos animais visando adequar o consumo de energia.
- Fornecer a dieta três a quatro vezes ao dia em intervalos regulares e pontuais. O volumoso deve ser fornecido primeiro (20 minutos antes) do concentrado.
- A noite fornecer maior quantidade de feno para maximizar as reservas intestinais de energia, agua e eletrólitos o que é importante para cavalos em modalidades esportivas de media a longa duração.
- Umedecer alimentos muito ressecados.
- Suspender a alimentação concentrada de 4 a 5 horas antes da competição e retorna-la de 30 a 60 minutos depois do termino da competição.
- Fornecimento de agua à vontade, sendo que após uma hora após o exercício intenso sendo dada em pequenas quantidades. Em competições que exijam mais esforço, a agua deve ser dado com eletrólitos a cada duas horas durante a prova mantendo o status hidroeletrolítico dos animais.
REQUERIMENTOS NUTRICIONAIS
Estão disponíveis no mercado vários tipos de rações concentradas, além da possibilidade de formulação da própria dieta através de balanceamento feito por profissionais capacitados (Médicos Veterinários e Zootecnistas).
Roger Clark – Médico Veterinário CRMV-SC 3764
Juiz e Inspetor Zootécnico ABQM e ABC PAINT
Consultor em Comportamento e Bem Estar Animal.