Rancho Clark | Cavalo Nordestino
Médico Veterinário CRMV-SC 3764 – Juiz e Inspetor Zootécnico ABQM e ABC PAINT – Consultor em Comportamento e Bem Estar Animal.
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09 set Cavalo Nordestino

Um animal Brasileiro em extinção?

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Muito se tem falado sobre cavalos e raças brasileiras, mas pouco se tem notícias de animais multifuncionais, adaptados em viver em terrenos espinhosos, pedregosos, rústicos pela sua própria condição, valente e guerreiro como o homem do sertão nordestino.

Se querem falar de cultura, ai está um prato cheio para quem quer saber um pouco mais do nosso Brasil, começando com a bravura de homens e cavalos em uma das regiões mais sacrificadas e em sua maioria das vezes explorada na boa fé de sua gente.

Mas deixando de lado questões políticas, não podemos deixar de mencionar essa ligação do homem nordestino com seu fiel companheiro de lida, na pega de gado onde o cenário não é outro, senão a caatinga, com seus labirintos de espinhos e plantas características que desafiam a resistência, a habilidade e a lida do vaqueiro em seu dia a dia trabalhando e aboiando com suas canções muitas das vezes em forma de lamento pelas condições em que vivem e como criam seus animais de uma forma geral.

Quem de fato conhece essa Raça de eqüinos?

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O cavalo nordestino é uma raça que se formou no Brasil a partir da introdução de cavalos das raças Berbere ou Barbo, do norte da África, e das Someia e Garrano, da península ibérica (Portugal e Espanha), no começo da colonização brasileira nos anos de 1530.

Presentes há mais de 400 anos no sertão nordestino foram importantes para a disseminação de bovinos e outros eqüinos por todo o interior do nordeste, principalmente nas áreas próximas ao Rio São Francisco, sendo utilizados pelos colonizadores para adentrar o sertão.

O animal se tornou característico por se adaptar as condições climáticas, a escassez de água, alimentos e aos terrenos quentes e pedregosos. É a única raça no mundo que possui muitas características da raça berbere que era utilizada como cavalos de batalha por turcos e muçulmanos.

Uma característica forte é a ausência de ferraduras, fazendo com que também seja conhecido como “pé duro”. Esses animais conseguem trabalhar com excelência e sem a necessidade de ferraduras ou qualquer outra proteção na caatinga brasileira, onde nenhum outro eqüino se sobressai, podendo percorrer 70 km por dia.

A maioria dos exemplares da raça tem o andamento marchador que é muito confortável para o cavaleiro, possui aprumos fortes e músculos bem definidos. São animais de médio porte, com aproximadamente 1,30 metros de garupa e de 1,45 a 1,55 metros de cernelha.

Com o passar do tempo, a inclusão de outras raças e muitos cruzamentos entre elas, o cavalo nordestino começou a entrar em extinção. A luta pela valorização e resgate dessa raça vem acontecendo nos últimos 10 anos. Embora seja muito difícil de contabilizar, a raça vem sendo contada através de registros genealógicos.

A Associação Eqüestre e de Preservação do Cavalo Nordestino (AEPCN) registrou apenas 16 exemplares no último ano que atendem os padrões genealógicos da raça na região do Cariri, no Ceará. De acordo com a pesquisadora, Patricy de Andrade Salles, a permanência da existência da raça depende da ação dos criadores.

A valorização do patrimônio genético do cavalo nordestino é de suma importância. No mínimo, é uma forma de reconhecimento de todos nós por esse animal que apesar das adversidades, contribuiu no trabalho, no transporte de pessoas e de cargas pelo sertão, assim como, faz parte da história de um pedaço do Brasil rico culturalmente, com suas tradições e folclore.

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Ao tomarmos conhecimento que uma raça ou mesmo um único exemplar se extingue, um pouco de nós também se vai e com isso as futuras gerações não conhecerão o valor de se preservar o que nos fez chegar até os dias de hoje, afinal, o cavalo sempre levou o homem em seu lombo por lugares muitas das vezes inimagináveis.

Roger Clark

Médico Veterinário

09/09/2017